Olívia Chaves de Oliveira
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL E OS AUXÍLIOS À ALIMENTAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL
RURAL DO RIO DE JANEIRO UFRRJ
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ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL E OS AUXÍLIOS À ALIMENTAÇÃO NA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO UFRRJ
STUDENT ASSISTANCE AND FOOD AID AT THE FEDERAL RURAL
UNIVERSITY OF RIO DE JANEIRO UFRRJ
ASISTENCIA ESTUDIANTIL Y AYUDA ALIMENTARIA EN LA UNIVERSIDAD
FEDERAL RURAL DE RIO DE JANEIRO - UFRRJ
Oliveira, O. C.
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
olivia.ufrrj@gmail.com
Resumo
Este trabalho é uma divulgação científica de extrato de pesquisa básica, sobre a identificação
do perfil universitário e a importância do auxílio à permanência estudantil, enquanto faces
constituintes da democratização da educação superior na Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro - UFRRJ. Assim, nosso objetivo é apresentar os dados quantitativos e análise preliminar
sobre a demanda por auxílios alimentação no Edital 02/2023 da UFRRJ. A metodologia
utilizada foi pesquisa exploratória, com análise qualitativa, cujo método de procedimento
adotado foi o estudo de caso. Os principais resultados apontam para a prevalência da demanda
de auxílio alimentação dentre os quatro auxílios disponíveis (alimentação, moradia, transporte,
didático-pedagógico), seja na forma de gratuidade para a refeição nos restaurantes
universitários, seja na forma de auxílio pecuniário. Isto representa para a Universidade a
necessidade de ampliar o investimento nesta ação institucional e para a Política Nacional de
Assistência Estudantil (Lei 14.914/2024) recém aprovada, um indicador que revela a
importância desta ação para permanência estudantil.
Palavras-chave: Restaurante universitário; permanência; política educacional; auxílio
estudantil.
Olívia Chaves de Oliveira
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Abstract
This work is a scientific publication of an extract from basic research, on the identification of
the university profile and the importance of aid for student permanence, as constituent facets of
the democratization of higher education at the Federal Rural University of Rio de Janeiro -
UFRRJ. Thus, our aim is to present quantitative data and a preliminary analysis of the demand
for food aid in UFRRJ's Notice 02/2023. The methodology used was exploratory research, with
qualitative analysis, whose method of procedure adopted was the case study. The main results
point to the prevalence of demand for food aid among the four available aids (food, housing,
transportation, didactic-pedagogical), either in the form of free meals in university restaurants
or in the form of cash aid. This represents for the university the need to increase investment in
this institutional action and for the recently approved National Student Assistance Policy (Law
14.914/2024), an indicator that reveals the importance of this action for student permanence.
Keywords: University restaurant; permanence; educational policy; student aid.
Resumem
Este trabajo es una publicación científica de un extracto de una investigación básica, sobre la
identificación del perfil universitario y la importancia de las ayudas para la permanencia de los
estudiantes, como facetas constitutivas de la democratización de la enseñanza superior en la
Universidad Federal Rural de Río de Janeiro - UFRRJ. Nuestro objetivo es, por lo tanto,
presentar datos cuantitativos y un análisis preliminar de la demanda de ayuda a la permanencia
en la Convocatoria 02/2023 de la UFRRJ. La metodología utilizada fue la investigación
exploratoria, con un análisis cualitativo, cuyo método de procedimiento fue el estudio de caso.
Los principales resultados apuntan a la prevalencia de la demanda de ayuda alimentaria entre
las cuatro ayudas disponibles (alimentación, vivienda, transporte, didáctico-pedagógica), ya sea
en forma de comidas gratuitas en restaurantes universitarios o en forma de ayuda en efectivo.
Esto representa para la universidad la necesidad de aumentar la inversión en esta acción
institucional y para la recién aprobada Política Nacional de Asistencia al Estudiante (Ley
14.914/2024), un indicador que revela la importancia de esta acción para la permanencia
estudiantil.
Palabras clave: Restaurante universitario; permanencia; política educacional; auxilio
estudiantil.
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Introdução
Trata-se da apresentação de extrato de pesquisa básica, em fase de finalização, sobre a
identificação do perfil universitário e a importância do auxílio à permanência estudantil. O título
da pesquisa original é ‘O perfil universitário e o auxílio à permanência estudantil: as faces da
democratização da educação superior na UFRRJ’, aprovado no Edital 12/2023 da P-reitoria
de Pesquisa e Pós-graduação da Instituição para concessão de auxílios financeiros à Técnico-
administrativos pesquisadores.
Consiste em uma pesquisa exploratória inédita, finalizada em setembro de 2024, cujo objetivo
geral foi investigar, por amostragem, o perfil social dos estudantes que buscaram os auxílios da
assistência estudantil na UFRRJ no primeiro semestre de 2023. Para tanto, escolhemos o edital
gerenciado pela Divisão Multidisciplinar de Apoio ao Estudante/DIMAE, que é uma das cinco
divisões da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis/PROAES: o Edital 02/2023/DIMAE.
Diante da escassez de recursos humanos e orçamentários para o atendimento de todos, a
administração pública se vê, cada vez mais, diante da necessidade de otimizar a implementação
de suas políticas sociais. Os dados apresentados no Plano de Desenvolvimento Institucional da
UFRRJ 2023|2027, trazem a seguir, o cenário de atendimentos possíveis:
As bolsas e auxílios da assistência estudantil atende a 8.311
estudantes, nas mais variadas modalidades e isso representa a
porcentagem de 32%. Segundo dados obtidos junto à coordenação de
Tecnologia e Informação e Comunicação (COTIC) da UFRRJ, no ano
de 2021, 16.900 estudantes possuíam perfil de vulnerabilidade
socioeconômica de até 1.5 salário-mínimo per capita, ou seja, 51%
delas não são atendidos diretamente com bolsas e auxílios da
assistência estudantil”.
(UFRRJ, 2023: 80-81)
Por isso, ressaltamos a importância de conhecer este perfil estudantil para traçar ou adequar as
políticas de permanência de forma mais eficiente, dado o novo cenário heterogêneo encontrado
na comunidade acadêmica após a implementação das políticas de democratização do acesso e
a crise social nacional, agravada durante a pandemia de COVID19.
A partir deste estudo, esperamos também, fornecer subsídios para o aprimoramento de políticas
institucionais de assistência estudantil, considerando as mudanças sociais vivenciadas na
comunidade acadêmica. Além de promover a reflexão sobre o alcance da política institucional
de assistência estudantil para o combate a evasão.
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Este Edital ofertou os auxílios de alimentação, moradia, transporte e apoio pedagógico, como
parte da execução da Política Institucional de Assistência Estudantil - PAA (Deliberação
CONSU/UFRRJ 15/2017) e do Programa de Assistência Estudantil, que na ocasião deste
Edital era amparado pelo Decreto nº 7.234/2010 e em julho do corrente ano promulgado na Lei
nº 14.914/2024. Assim, nosso objetivo é apresentar os dados quantitativos e análise preliminar
sobre a demanda por auxílios alimentação no Edital 02/2023 da UFRRJ.
Nesta pesquisa a concepção de assistência estudantil predominante é aquela que considera a
política de assistência estudantil voltada a todo estudante que apresente situação de
vulnerabilidade, vivenciando situações que possam comprometer sua permanência na
instituição. Enquanto a política de permanência estudantil é aquela que prevê ações nas
dimensões materiais e simbólicas, voltadas a todos os estudantes, visto os diferentes fatores que
podem causar a evasão ou mesmo prejudicar a permanência com qualidade na universidade
(Heringer, 2020).
Dessa forma, a assistência estudantil contribui para a permanência estudantil no contexto das
políticas de democratização do acesso à educação superior. Pois, outra concepção fundamental
para este estudo, é o conceito de que o acesso à universidade envolve uma tríade inseparável de
ingresso, permanência e conclusão (Veloso, Maciel, 2015).
A alimentação é uma das linhas de atuação da universidade que se enquadra como ações de
permanência e de assistência estudantil, no caso da UFRRJ. Nunes e Veloso (2015) enquadram
o auxílio alimentação na dimensão de ação assistencial, pois está relacionada à diminuição dos
efeitos das desigualdades provocadas pelas condições financeiras dos estudantes.
Esta ação, cujo objetivo é assegurar a alimentação do estudante em situação de vulnerabilidade
econômica, foi regida até julho do corrente ano pelo Decreto 7.234 de 2010, que após 13
anos de luta no Congresso Nacional foi promulgada como Lei.
Agora, a Lei 14.914 de 3 de julho de 2024, incorpora outros programas para “democratizar
e garantir as condições de permanência de estudantes na educação pública federal” (Brasil,
2024). Ainda pendente de regulamentação, a Lei incorpora no Capítulo IV, o Programa de
Alimentação Saudável na Educação Superior (PASES) destinado a “a promover e garantir a
segurança alimentar e nutricional dos estudantes ao desenvolverem atividades de ensino,
pesquisa e extensão no âmbito do espaço acadêmico” (Brasil, 2024).
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Metodologia
A metodologia utilizada foi a pesquisa exploratória, com análise qualitativa, cujo método de
procedimento adotado foi o estudo de caso, na comunidade estudantil da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. Que segundo Fávero e Gaboardi (2008:51) trata-se de um
‘estudo profundo e exaustivo de um caso de interesse em todos os seus aspectos, normalmente
adquire um caráter mais exploratório, utilizado em ciência biomédicas e sociais’.
A amostra investigada foi o total dos 2.232 estudantes inscritos, portanto, 17% do universo de
pesquisa (13.049 estudantes de graduação presencial), formado pelos três campi da
Universidade. Utilizando a calculadora SurveyMonkey, chegamos ao lculo de que esta
amostra tem 99% de grau de confiança com 2,5% de margem de erro.
São estudantes que efetuaram suas matrículas, majoritariamente, entre os anos de 2017 e 2020,
portanto após a implementação da Política de Cotas.
A coleta de dados foi possível através do acesso autorizado à sistematização das fichas de
inscrição feita pela DIMAE, sem a necessidade de entrevistas, sem a divulgação de dados
pessoais, em total anonimato, mantendo assim, a ética na pesquisa em ciências humanas.
Desse total de inscritos, 709 estudantes foram contemplados, ou seja, somente 31% dos
inscritos, nos diferentes auxílios disponíveis, de acordo com a análise socioeconômica e as
diferentes categorias prevista na PAA da UFRRJ, a saber:
TABELA 01
Escala de classificação de renda para distribuição dos auxílios do PAAE.
ordem classificatória
VALORES DE SALÁRIO MÍNIMO
POR RENDA FAMILIAR BRUTA
MENSAL PER CAPITA
i
0 a 0,5 salário-mínimo
II
0,5 a 1 salário-mínimo
III
1 a 1,5 salário-mínimo
Fonte: Deliberação nº 15/2017 UFRRJ, 2017.
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Resultados e Discussão
A Universidade em questão tem 13.049 estudantes de graduação matriculados na modalidade
presencial, 969 estudantes matriculados no Colégio Técnico e 2.605 estudantes matriculados
nos programas de pós-graduação (UFRRJ, 2023). Estes estudantes estão espalhados pelos três
campi localizados em três diferentes regiões do Estado do Rio de Janeiro, contando com
diferentes estruturas para o atendimento na área de assistência estudantil.
O campus sede está localizado no município de Seropédica, região metropolitana do Estado e
conta com um restaurante universitário recém reformado e ampliado, com capacidade de servir
aproximadamente cinco mil refeições diárias. O segundo campus, fica no município de Nova
Iguaçu, região da baixada fluminense e tem um restaurante universitário, inaugurado em abril
de 2012, com capacidade para servir mil refeições diárias. Já, o terceiro campus está localizado
na região Serrana do Rio de Janeiro, no município de Três Rios e não conta com restaurante ou
refeitório para os estudantes. Estes, portanto, recebem o auxílio alimentação em pecúnia, no
valor mensal de R$ 400,00 (quatrocentos reais).
Para contextualizar o atendimento da assistência estudantil na linha de ação da alimentação,
precisamos registrar que os dois restaurantes universitários existentes atendem estudantes do
ensino médio do Colégio Técnico, da graduação e da pós-graduação com as refeições de
desjejum, almoço e jantar, de valor subsidiado com investimento de outros recursos
orçamentários, incluindo recursos próprios, além dos recursos da Ação 4002 - Programa
Nacional da Assistência Estudantil. Desde 2002, o valor das refeições para os estudantes, é R$
0,70 (setenta centavos) para o desjejum e R$ 1,45 (um real e quarenta e cinco centavos) para o
almoço ou jantar (Deliberação CONSU/UFRRJ nº 30 de 19/12/2002).
O Restaurante Universitário do Instituto Multidisciplinar do Campus de Nova Iguaçu, funciona
no regime de autogestão, sendo somente a mão de obra operacional terceirizada e o Restaurante
Universitário do campus de Seropédica (o campus sede) funcionou em autogestão até março de
2024, quando implementou o sistema de concessão do serviço de alimentação e do espaço
físico, cabendo à Instituição a gestão e fiscalização do contrato.
Dessa forma, demonstraremos no gráfico 01 a seguir, o montante de atendimento dos dois
restaurantes nos últimos anos.
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Gráfico 01
Total anual de refeições servidas pelos Restaurantes Universitários do Campus de Seropédica
e do Campus de Nova Iguaçu da UFRRJ
Fonte: elaboração própria. OLIVEIRA, 2021, p. 164.
Em relação aos números apresentados no gráfico 01 precisamos esclarecer que foram adotados
os anos de 2014 e 2017 para análise por serem os anos sobre os quais encontramos os dados
disponíveis nos relatórios de gestão da Universidade e, também foram publicados em Tese
(Oliveira, 2021). Além disso, cumpre registrar que no ano de 2017 o restaurante universitário
do campus de Seropédica encerrou sua produção própria para iniciar uma obra estrutural
englobando toda sua área de pré-preparo e preparo das refeições, passando então ao serviço de
contratação de empresa especializada para servir refeições transportadas. Os anos de 2020 e
2021 também seriam automaticamente excluídos devido a pandemia do vírus SARS-COV-02
que causou a COVID19 e a necessidade de implantar o trabalho remoto garantindo assim o
isolamento social necessário para conter a propagação do vírus. Ademais, temos conhecimento
de que o número de refeições servidas nos anos de 2022 (mesmo com o retorno gradual às
atividades presenciais) e 2023 também apontam para este aumento, porém não estão disponíveis
ao público para esta publicação.
Apesar das ocorrências e as dificuldades na coleta de dados, próprias da pesquisa, somadas às
particularidades de cada campus, conseguimos observar um aumento no número de
atendimentos no período de 2014 a 2017, gerando à expectativa de uma procura crescente pelo
serviço de alimentação da Universidade. Estes dados também apontam para a importância do
acompanhamento sistemático desse quantitativo a cada ano, podendo servir de ferramenta de
trabalho ao gerar progressões geométricas que orientem a ampliação do serviço.
Nesse sentido, o dado em análise e divulgado neste estudo aponta para a prevalência da
demanda de auxílio alimentação dentre os quatro auxílios disponíveis (alimentação, moradia,
979.371
1.011.237
960.000 970.000 980.000 990.000 1.000.000 1.010.000 1.020.000
2014
2017
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transporte, didático-pedagógico), seja na forma de gratuidade para a refeição nos restaurantes
universitários, seja na forma de auxílio pecuniário, para o campus onde não restaurante
universitário.
Tabela 02
Auxílios solicitados por ordem decrescente de demanda no Edital 02/2023/DIMAE
ORDEM
TIPO DE
AUXÍLIO
Alimentação
Transporte
1.392
Didático-
pedagógico
1.284
Moradia
840
Fonte: elaboração própria a partir de dados fornecidos pela Coordenação da DIMAE em
março/2024.
Sobre a tabela 02 esclarecemos que o estudante pode se candidatar a mais de um auxílio e terá
seu pedido avaliado por uma comissão seguindo a regras do Edital, conforme explicado no
tópico da metodologia, por isso o somatório do total da tabela não equivale ao número de
inscritos.
Em relação ao número de inscritos para o auxílio alimentação, outras pesquisas sobre
assistência estudantil na UFRRJ, também revelaram ser esta a ação mais executada. A pesquisa
sobre o Perfil socioeconômico e cultural do estudante de graduação na UFRRJ feita em 2018,
mostrou que 16,20% dos 15.926 estudantes entrevistados eram contemplados com auxílio
alimentação, enquanto 14,90% dos estudantes recebiam auxílio transporte e 10,50% dos
entrevistados recebiam auxílio moradia (UFRRJ, 2019, p.05).
No edital 02/2023, o auxílio alimentação foi o mais solicitado e em seguida o auxílio transporte,
confirmando o que as equipes multiprofissionais que trabalham nos setores da assistência
estudantil da Universidade vem observando na prática no decorrer dos anos. Os estudantes
trazem para a Universidade as demandas básicas do ser humano, relacionadas ao direito de
alimentar-se e ao direito de ir e vir. Sem a garantia destes direitos, a democratização da
educação superior pública, ancorada na tríade de acesso, permanência e conclusão está
ameaçada.
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Além da identificação da demanda pelos auxílios da assistência estudantil, a coleta de dados
nos permitiu traçar um perfil social dos 2.232 inscritos neste edital. É um recorte da realidade
que nos ajuda no exercício de compreender o todo, como nos propomos quando fazemos um
estudo de caso. Assim, vejamos.
Em relação à variável sexo, 36,7% dos inscritos são do sexo masculino e 63,3% dos inscritos
responderam ser do sexo feminino. Este dado reforça a pensar na necessidade de outras políticas
relacionadas ao gênero. Sem entrar aqui, no debate que envolve o conceito de gênero, que vem
ampliando seu alcance positivamente na UFRRJ. Os percentuais acima apontam que as
mulheres são a maioria na procura por auxílios da assistência estudantil e, portanto, estão em
situação de maior vulnerabilidade.
Outras duas variáveis nos mostram que, 71,6% dos inscritos nunca trabalharam e 95,7% são
solteiros.
Quanto à variável de raça: 37,6% dos inscritos responderam ser pardos, 36,7% são brancos,
24,3% se autodeclararam negro (dentre estes, 10,12% se autodeclaram quilombolas), 0,40%
disseram ser indígenas e 0,95% responderam ser amarelos. Este dado merece duas importantes
interpretações.
Por um lado, a questão social perpassa todas as raças mencionadas, se quisermos analisar do
ponto de vista da interseccionalidade. Duas das três variáveis da interseccionalidade como
metodologia (Akotirene, 2022) se encontram em maior número aqui: sexo feminino, negros e
pardos, sendo o critério principal de seleção neste edital de auxílios, a renda. Por outro lado,
um cruzamento com a pesquisa de pós-doutorado a respeito da permanência de estudantes
quilombolas na UFRRJ feita em 2021, também pela autora desse artigo, encontrou somente 06
estudantes quilombolas. Ou seja, temos um indicador de que a universidade não conhece seus
estudantes. Na inscrição de um edital de auxílios da assistência estudantil 55 estudantes se
identificaram como quilombolas (10,12% dos 24,3% de negros), enquanto a pesquisa de pós-
doutorado que utilizou inclusive como ferramenta de coleta de dados, uma consulta através da
ouvidoria institucional, só identificou 06 estudantes (Oliveira, 2022).
Dos 2.232 estudantes inscritos, 25,8% ingressaram na Universidade pela ampla concorrência
no Sistema de Seleção Unificado (SISU).
Sobre a nacionalidade, 99% dos inscritos são brasileiros e 0,2% são estrangeiros (05 estudantes)
e 0,8% não responderam.
Em relação a ter algum tipo de transtorno 09 estudantes disseram que sim, sendo 05 estudantes
com transtornos globais e 04 com superdotação. Sobre a existência de inscritos com deficiência,
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29 estudantes responderam que tem deficiência, dentre eles: 09 com deficiência auditiva, 11
com deficiência física, 06 com baixa visão, 01 com deficiência mental, 01 com cegueira e 01
com surdez.
No caso dos auxílios estudantis, existe a possibilidade de acúmulo com outras bolsas sem
prejuízo na avaliação socioeconômica. Assim, 18,4% dos inscritos possuem outra atividade
remunerada, sendo as atividades listadas: monitoria, Programa de Educação Tutorial (PET),
trabalho, estágio e iniciação cientifica. 79,8% dos inscritos o exerciam outra atividade
remunerada e 1,7% dos inscritos não responderam. O que pode representar que essas atividades
remuneradas não são suficientes para manter o estudante na universidade, sendo necessário
recorrer ao acúmulo com outro auxílio.
Apresentamos aqui, um extrato de uma pesquisa inédita na Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro, aproveitando como amostra os inscritos no edital de auxílio da assistência estudantil
em seus três campi.
Nossa intenção foi estimular que esta seja uma via de trabalho técnico e acadêmico, também
estimular outras pesquisas desse tipo nas demais universidades, de modo a auxiliar as Pró-
reitorias no planejamento de suas ações, alcance de suas metas e defesa da política de assistência
estudantil, enquanto uma política pública de democratização da educação superior, que tem na
permanência a principal estratégia de combate à evasão.
Considerações Finais
A análise apresentada demonstra que a Universidade tem como demanda real a necessidade de
manter e ampliar o investimento na ação institucional denominada ‘auxílio alimentação’ e para
a Política Nacional de Assistência Estudantil (Lei 14.914/2024) recém aprovada, um
indicador que revela a importância desta ação para permanência estudantil.
A Lei nº 14. 914/2024, está em fase de regulamentação, e traz no seu artigo 11, o ‘Programa de
Alimentação Saudável na Educação Superior (Pases) destinado a promover e garantir a
segurança alimentar e nutricional dos estudantes ao desenvolverem atividades de ensino,
pesquisa e extensão no âmbito do espaço acadêmico’ (BRASIL, 2024), incluindo os estudantes
de pós-graduação no escopo de atendimento da política. Assim, podemos somar a demanda
crescente demonstrada pela pesquisa, com um novo dimensionamento da alimentação na
universidade, que exigirá maiores aportes em recursos financeiros e humanos para que as
universidades consigam manter suas unidades e executar esta nova Lei.
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Este trabalho é uma contribuição no sentido de demarcar que a demanda dos estudantes pelo
serviço de alimentação na Universidade é crescente. Que o olhar para os indicadores deste
serviço precisa ser constante, assim como os investimentos para sua manutenção e ampliação.
A pesquisa também demonstrou a demanda para outras ações e necessidade de realização de
nova pesquisa para traçar análises comparativas que permitam o monitoramento e a avaliação
de uma política social que, neste caso é voltada aos estudantes universitários.
Não podemos deixar de registrar que, esta pesquisa foi realizada no contexto da aprovação da
nova Lei do PNAES, como já citado, quando se evidenciou a necessidade e a carência de uma
nova pesquisa do perfil do estudante de graduação. Visto que, a última foi feita em 2018 e de
lá pra cá já ocorreram muitos eventos, dois quais podemos destacar: a pandemia de COVID19,
os ataques e desmontes durante o governo Bolsonaro e a alteração da Lei de cotas em 2023,
incluindo os estudantes quilombolas nas reservas de vagas.
Esta necessidade de atualizar a pesquisa do perfil socioeconômico dos graduandos das
universidades federais, motivou o Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e
Estudantis (FONAPRACE) a reativar o Observatório de Políticas de Assistência Estudantil em
maio de 2024, reunindo técnicos e docentes de todas as regiões do país para pensar nesta
pesquisa.
Com a implementação da política de democratização do acesso a partir de 2012 com a Lei de
Cotas e todas as reformulações advindas posteriormente, o perfil social da comunidade
estudantil das Instituições Federais de Ensino Superior tem se tornado mais heterogêneo,
trazendo para o interior do campo acadêmico, antes majoritariamente frequentado pelas classes
sociais privilegiadas, demandas sociais próprias de sua condição econômica subalterna. Cabe à
pasta de assistência estudantil nas universidades, a difícil tarefa de equacionar estas demandas
com orçamentos escassos, a fim de promover a permanência estudantil nos campi.
Agradecimentos
Ao Diretor da DIMAE/PROAES, Tarcísio Correa Salles, à Pró-reitora de Assuntos Estudantis,
Juliana Arruda, à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UFRRJ.
Referências
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da legislação e indicadores educacionais. Revista Educação em Questão. Natal, 51(37): 224-
250.
Dra. Olívia Chaves de Oliveira
Doutora em Educação/UFRRJ. Pós-doutorado em Educação/UFMS. Diretora da Divisão de
Gestão de Suprimentos da Assistência Estudantil na Pró-reitoria de Assuntos
Estudantil/UFRRJ. Vice coordenadora do Observatório de Políticas de Assistência
Estudantil/FONAPRACE/ANDIFES.