
Wilson Souza Gomes
A CULTURA BRASILEIRA: FERNANDO DE AZEVEDO
acaba por ter influência e presença na cultura intelectual do país. Aceitando a obrigação, o
dever, dá a sua produção uma perspectiva monumental, reconstrói e cobre toda a história do
país em um quadro de conjunto (Azevedo, 2010). Contudo, a reconstrução do processo
histórico contido na imagem da história brasileira, obedece a fins próprios, ou seja, apresentar
a cultura brasileira como a capaz de formação de uma nova cultura, correspondente ao
processo de transição por que passava a sociedade.
Fernando Azevedo era ligado ao grupo do periódico O Estado de São Paulo, e aos pioneiros
da Educação Nova. Como Fernando de Azevedo atuava em várias frentes, sua obra demarca
no tempo, „o dever‟ e o sentido que os grupos e as instituições a qual esteve ligado. O texto é
uma narrativa do passado histórico e, ao mesmo tempo, a defesa de que seria preciso educar o
Brasil para a cultura. Como numa espécie de revolução reformista, a reorganização da cultura
faria os brasileiros se libertarem. Para isso, em sua visão, a organização das reformas de
ensino e as preocupações políticas de reconstrução do ensino, que estiveram na esteira dos
seus trabalhos e ações, não podiam se perder com o tempo.
Como o processo de criação da Universidade de São Paulo, “expressa[va], em certo sentido,
sua vinculação com as elites, no sentido de ater-se ligada aos interesses de grupos
hegemônicos paulistas. Além da reivindicação dos intelectuais, as circunstâncias históricas de
São Paulo” na década de 1930, favoreceu surgimento dessa instituição. “Tendo sido derrotado
duas vezes (1930 e 1932) [nas eleições presidenciais], era preciso que o estado paulista fosse
capaz de conquistar, no campo intelectual e acadêmico, a hegemonia perdida no campo
político”. Fernando de Azevedo compartilhava da perspectiva de que “vencidos pelas armas,
sabíamos perfeitamente que só pela ciência e pela perseverança no esforço voltaríamos a
exercer a hegemonia que durante longas décadas” (Souza, 2002: 04).
Sendo um contexto dinâmico e fluido para que as ações e feitos tivessem efeitos esperados,
tornava-se urgente e “profícua a construção de um novo setor de produção de grupos
dirigentes, por meio de uma intervenção direta sobre a formação cultural dos indivíduos, com
a criação” da universidade. Nesse “sentido, a Universidade de São Paulo (USP), criada em
1934, esteve articulada a um conjunto de iniciativas (de letrados vinculados ao movimento da
„Escola Nova‟ e de empresários liberais, em geral, proprietários de jornais e revistas de
circulação nacional), e foi uma das pioneiras, neste projeto político, institucional, cultural e
intelectual” de retomada hegemonia e atuação na formação dos indivíduos (Roiz, 2020: 36).
Como o autor estava vinculado a esses grupos e instituições, que se consideravam criadores,
ou pelo menos, propositores de um projeto de cultura capaz de formar, de reconstruir a nação
numa cultura elevada, desenvolvida, voltada ao progresso material e imaterial, de certa forma,
a obra representa a preservação de certos passados e explica certos feitos.
É compreensível que no contexto de perplexidade, hesitações, suspeitas e divergências da
década de 1930, que nasce a “ideia de confiar ao autor desta obra [A cultura brasileira,] a
incumbência de, como reformador e intérprete da nova corrente pedagógica [a Escola Nova]”,
consubstanciar ideias e opiniões. Seja “num manifesto”, nas reformas ou nas obras, “os novos
ideais” seriam assinalados. Assim, a defesa de uma cultura “urbana e industrial”, uma nova
política educacional e formação de uma elite intelectual, expressas na obra, objetiva romper