sociais entre grupos diversos, (re)significadas com a experiência educacional, a partir do
encontro com as expressões das linguagens artísticas. Como explica Martel em seu curta-
metragem, as fraturas sociais foram sendo acirradas à medida que políticas públicas foram
forjadas, não para a coexistência da sociedade, mas para a expansão privatista. Das malhas
ferroviárias às rodovias de veículos automotores particulares, a ampliação de fortificações
privadas em contraste ao conviver público nos conduziram aos nossos tempos de desconfiança
e medo.
Em Mendonça Filho, os espaços públicos de convivência, as ruas do centro nas quais as
principais salas de cinema existiam, o transporte urbano de bondes substituídos por veículos
particulares são esvaziamentos que acarretaram a decadência e a falência da urbanidade. Porém,
é sintomático que parte das imagens documentadas seja da resistência carnavalesca, que cada
vez mais ocupa as avenidas e ruas das cidades brasileiras, com destaque para Recife nesse
cenário. Talvez nessa prática, mais do que apenas observar uma contravisualidade possível, ela
também seja estimulada.
Interessa agregar a esta discussão outra abordagem teórico-conceitual, a de colonialidade
proposta pelo grupo de estudos Modernidad/Colonialidad, do qual Walter Mignolo é
integrante. O grupo é formado por uma rede de pesquisadores que trabalham considerando
perspectivas heterogêneas e transdisciplinares, além de intelectuais militantes e comprometidos
com movimentos políticos e sociais (Soto, 2018). Mignolo avisa sobre “o lado mais escuro da
modernidade ocidental”, qual seja, a colonialidade em sua feição de colonialidade do poder.
Esse processo foi forjado desde a expansão capitalista deflagrada no Renascimento, e desde a
invasão das Américas permanece em andamento. O neoliberalismo como política de desmonte
do estado e crescente privatização, mas mais do que isso, de ação de estado mínimo para alguns
e de regras e contenção para muitos, trouxe o processo crescente de controles de nossos tempos
e do esgarçamento de nossa malha social. Nessa face, a colonialidade se sustenta nos controles
do Poder, do Ser e do Saber, atuando em nossas subjetividades e mobilizando uma política de
afetos.
Pensamos que a cidadania é algo de grande complexidade, passível de diversos entendimentos.
Entretanto, coaduno com os princípios da proposta pedagógica progressista, defendida por
Paulo Freire, na qual a alfabetização política é a base a partir da qual se objetiva o projeto
pedagógico. A conscientização crítica dos sujeitos é o alicerce que fundamenta e pode levar à
transformação social. O jovem estudante, nesse contexto, é pensado como capaz de superar a
consciência básica, alicerçado no estímulo, ao refletir sobre sua condição existencial. Para
Freire é necessário aprender a ler o mundo antes, sendo que:
O ato de aprender a ler e escrever deve começar a partir de uma
compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisas que os
seres humanos fazem antes de ler as palavras. Até mesmo
historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo, depois
revelaram o mundo e, a seguir, escreveram as palavras. Os seres