ALIMENTAÇÃO E SOCIEDADE: REFLEXÕES SOBRE CULTURA, SUSTENTABILIDADE E
SEGURANÇA ALIMENTAR
ALIMENTAÇÃO E SOCIEDADE: REFLEXÕES SOBRE CULTURA,
SUSTENTABILIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR
É com grande alegria que apresentamos o dossiê “Alimentação & Sociedade”, uma coletânea
de artigos que explora as múltiplas dimensões da alimentação, destacando sua importância
como fenômeno social, cultural e político. O tema ganha ainda mais relevância diante das
desigualdades crescentes da nossa sociedade, em que muitas pessoas, especialmente as mais
vulneráveis, enfrentam dificuldades para acessar alimentos de qualidade e em quantidade
suficiente.
Neste contexto, os três primeiros artigos exploram a segurança alimentar no ambiente
acadêmico, um espaço estratégico para analisar as desigualdades no acesso à alimentação e
propor soluções para enfrentá-las. Com efeito, as instituições de ensino refletem desigualdades
sociais mais amplas, e, ao mesmo tempo, podem promover mudanças por meio de políticas
públicas voltadas à permanência estudantil. Garantir a segurança alimentar nesse ambiente é
crucial, contribuindo para o bem-estar do estudante, com impacto direto no seu desempenho
escolar e na sua permanência, fortalecendo a inclusão e a igualdade de oportunidades.
Especialmente para estudantes em situação de vulnerabilidade, garantir uma alimentação
adequada é um grande desafio, frequentemente comprometendo o aprendizado e a continuidade
de seus estudos. Os artigos deste dossiê analisam essas questões, trazendo reflexões e propostas
para o fortalecimento de políticas institucionais que enfrentam a insegurança alimentar e
promovam melhores condições para o sucesso acadêmico e social.
O primeiro artigo, “INSEGURANÇA ALIMENTAR E GÊNERO NO ENSINO SUPERIOR:
A IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS SOCIAIS DE PERMANÊNCIA PARA MULHERES
NA UNIVERSIDADE” - das autoras Natália Bernardini Voss, Franciele Koehler Alves,
Tainara Kessia Mainardes e Edina Schimanski - analisa a relação entre insegurança alimentar
e gênero, destacando as dificuldades enfrentadas por mães estudantes para permanecer e
concluir seus estudos. Na Universidade Estadual de Ponta Grossa, o estudo identificou a
presença de filhos como um fator de risco significativo para a insegurança alimentar entre as
acadêmicas, evidenciando como a maternidade agrava a condição de pobreza. O artigo reforça
a necessidade de políticas de assistência estudantil que atendam a essas especificidades,
promovendo maior equidade no acesso e conclusão do ensino superior.
O segundo artigo, ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL E OS AUXÍLIOS À ALIMENTAÇÃO NA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO UFRRJ” - da autora Olívia
Chaves de Oliveira - aborda a crescente demanda por auxílios alimentares e destaca a
importância de ampliar os investimentos na área. A pesquisa ressalta como esses auxílios
contribuem para combater desigualdades alimentares e sociais, garantindo a permanência de
estudantes em situação de vulnerabilidade e ampliando suas oportunidades acadêmicas.
O terceiro artigo, “AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFISSIONAIS DA
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS SOBRE O PAPEL DA ESCOLA NA PROMOÇÃO
DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM PONTA GROSSA/PARANÁ” -
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escrito por Diana Galone Somer, Alfredo Cesar Antunes e Constantino Ribeiro de Oliveira
Junior - explora o papel da escola na promoção da segurança alimentar. A partir de uma
abordagem qualitativa, o estudo investiga as percepções e representações sociais de
profissionais do Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos. Os resultados
indicam que práticas fortalecidas nesse ambiente podem aprimorar o Sistema Nacional de
Alimentação Escolar, trazendo benefícios diretos para a segurança alimentar dos alunos.
Esses artigos inauguram o dossiê com reflexões essenciais sobre a segurança alimentar no
ambiente educacional, contribuindo para ampliar a compreensão dos desafios e das estratégias
necessárias para enfrentá-los, tanto no meio acadêmico quanto na sociedade em geral.
Ainda no contexto do ensino superior, o artigo “CAMBIOS Y ADAPTACIONES EN LA
ALIMENTACIÓN DE ESTUDIANTES AFRODESCENDIENTES MIGRANTES DE LA
UNIVERSIDAD DE ANTIOQUIA-COLOMBIA” - de autoria de Luz Marina Arboleda-
Montoya y Yury Marcela Ocampo Buitrago - aborda as transformações nas práticas
alimentares de estudantes migrantes autoidentificados como afrodescendentes. Com uma
abordagem qualitativa, a pesquisa aprofunda as adaptações que esses estudantes precisam
realizar em sua alimentação, destacando fatores como os vínculos estabelecidos entre eles, o
envio de alimentos por suas famílias e o papel do refeitório universitário. Essas adaptações são
apontadas como cruciais para favorecer a permanência desses estudantes no ambiente
acadêmico.
Na sequência, apresentamos dois artigos que destacam práticas de produção e consumo
sustentáveis, fundamentais para a promoção da segurança alimentar e a adoção de hábitos
alimentares saudáveis.
O artigo “CONSUMO DE ENDULZANTES EN PARTICIPANTES DE HUERTAS
URBANAS COMUNITARIAS CON ENFOQUE AGROECOLÓGICO EN EL ÁREA
METROPOLITANA DE BUENOS AIRES” - escrito por Guillermina Guerrero, Florencia
Pisarra y Agustina Suárez - destaca as hortas urbanas com produção agroecológica como um
importante instrumento para promover práticas alimentares saudáveis e fortalecer a segurança
alimentar. Os autores analisam o consumo de adoçantes, evidenciando que os participantes
dessas hortas tendem a preferir opções mais naturais e menos industrializadas, alinhadas a
práticas de produção sustentáveis e ao incentivo de hábitos alimentares conscientes.
No mesmo contexto acerca da produção sustentável, o estudo “DO CAMPO À MESA: UMA
ANÁLISE DO IMPACTO DA REDE DE AGROECOLÓGICOS MARIA ROSA DO
CONTESTADO NA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL DE SEUS CONSUMIDORES”
investiga como a participação na Rede tem influenciado os hábitos alimentares e incentivado a
reflexão sobre consumo consciente. A interação direta com os produtores e a troca de
informações dentro da Rede são fundamentais para a construção de um consumo mais
responsável e para o fortalecimento da agricultura familiar. Assim, os resultados evidenciam a
importância da Rede na promoção da segurança alimentar, da economia solidária e da
sustentabilidade.
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Esses estudos reforçam a relevância das práticas sustentáveis na construção de sistemas
alimentares mais justos, saudáveis e alinhados aos desafios contemporâneos. Já os últimos
artigos deste dossiê ampliam a discussão, explorando a alimentação em suas dimensões
culturais e simbólicas. Eles destacam como a comida transcende o simples ato de comer,
tornando-se essencial na construção de identidades, na preservação de tradições e na promoção
de transformações sociais. Por meio de práticas turísticas, do resgate de heranças culturais ou
da análise literária, esses trabalhos evidenciam como a alimentação conecta cultura, sociedade
e desenvolvimento, gerando impacto local, promovendo o pertencimento e despertando novas
perspectivas sobre seus significados e implicações.
O artigo “FOSTERING LOCAL DEVELOPMENT THROUGH CULINARY TOURISM IN
LATIN AMERICA: INSIGHTS FROM THE CASES OF MENDOZA, ARGENTINA;
OAXACA, MEXICO; AND MORRETES, BRAZIL” de Marcos Roberto Pisarski Junior;
Alfonso Zepeda Arce e Vander Valduga, aborda o Turismo Gastronômico como ferramenta
para geração de desenvolvimento local, se for desenvolvido em harmonia com a comunidade
local e não em detrimento desta buscando homogeneizações para atender ao turista. Cabe
ressaltar que o conceito de desenvolvimento adotado e almejado pelos autores extrapola o
dinamismo econômico e deseja melhoria da qualidade de vida da população local. Essa questão
é exemplificada por meio de casos latino-americanos que utilizam diferentes elementos
gastronômicos como propulsores do Turismo e consequente desenvolvimento.
Nesse sentido, o texto “LA BAGNA CAUDA PIAMONTESA A LA HUMBERTINA DE LA
PAMPA GRINGA: TRADICIÓN QUE ES HISTORIA Y SE HACE FIESTA” de Jorge
Kulemeyer também se soma à discussão do Turismo relacionado a um preparo específico,
destacando o pertencimento à uma tradição cultural, adaptações e o papel social da alimentação.
O trabalho “A REPRESENTAÇÃO DA “MÃE JUDIA” E OS CONFLITOS ALIMENTARES
EM “O EXÉRCITO DE UM HOMEM SÓ” DE MOACYR SCLIAR” de Francielle Manini
traz o aporte das Letras a partir da análise de símbolos e significados contidos na obra literária
em questão. Lança luz ao “papel civilizador da alimentação” e as dualidades e conflitos capazes
de se expressar na comida. Nesse sentido, aponta claramente que o que é comestível para uns
pode não o ser para outros diante de aspectos culturais, religiosos ou pessoais. O comer, como
diria Paolo Rossi, é uma inextricável mistura que perpassa a necessidade, desejos primários, até
emoções profundas.
Conforme se observou na análise acadêmica da obra literária supramencionada, a arte muitas
vezes é capaz de expressar nuances que nem sempre são verbalizadas, por outro lado, também
podem instigar e promover ações existentes ou potenciais. Nesse sentido, as contribuições
imagéticas mostram-se inspiradoras.
As ilustrações de “RAÍZES VIVAS: A VIDA ATRAVÉS DO OLHAR DE SEU ANTÔNIO E
CIDA” de Leticia Kossatz Correia convidam à uma jornada reflexiva com relação a como o
cotidiano, permeado pelo trabalho com a terra, o preparo de alimentos e concepções sobre a
vida e um ambiente mais sustentável. A coletânea destaca a história e o trabalho de um casal
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de produtores orgânicos da região de Itaiacoca, distrito do município brasileiro de Ponta Grossa,
no Paraná.
Por fim, na seção Histórias de Ficção, Claudia Gabriela Bakún nos oferece uma bela história
“OBSERVATORIO ASTRONÓMICO”.
Com essas variadas abordagens, o dossiê Alimentação & Sociedade propõe reflexões e
diálogos sobre o papel da alimentação na construção de sociedades mais justas, sustentáveis e
culturalmente diversas. Convidamos os leitores a explorarem esta coletânea e a considerarem
as perspectivas apresentadas como pontos de partida para análises e discussões ampliadas sobre
o tema.
Boa Leitura a Todos!
Profa. Dra. Mirna de Lima Medeiros (Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG, Ponta
Grossa Paraná, Brasil)
Profa. Dra. Marina Wallinger (Universidad Nacional de Lanús UNLA, Remedios de
Escalada, Provincia de Buenos Aires, Argentina)
Profa. Dra. Augusta Pelinski Raiher (Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG, Ponta
Grossa Paraná, Brasil)
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