
Cristhiano Dos Santos Teixeira
COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI?
Como extraímos da citação, o negacionismo não se impôs como uma questão totalmente nova
para a história. A forma com que esse ―fascismo contemporâneo‖, segundo Caldeira Neto
(2021), foi redesenha a partir da década de 1970 no Brasil, principalmente após a morte de
Plínio Salgado, recusou o holocausto como uma forma de defesa e conservação dos princípios
da extrema-direita. O integralismo, nesse sentido, deixou como herança, ao longo dos tempos,
os novos valores de defesa aos modelos militares como regra indispensável para a
manutenção da moral e da ética social a partir dessa ordem em defesa do ―progresso‖
nacional. Esse patriotismo contemporâneo também pôde ser identificado como um sintoma
dessa crise de valores, em que a identidade nacional, como ocorreu com o Brasil, hoje,
fragilizou-se com a polarização política da sociedade, realçando as suas diferenças.
Como sugeriu Marion Douzou, Diogo Cunha e Vincent Michelot (2021), os anos dois mil
(somados as crenças do fim do mundo) passaram a representar um período de glória para a
esquerda na América Latina. No momento em que, como destacou Pierre Bourgois (2021), o
neoconservadorismo estadunidense também passou a se associar, nos anos 2000, à política
internacional norte-americana do ex-presidente George W. Bush, influenciava principalmente
outros grupos conservadores da América, com sua política de guerra ao terrorismo: ―O ano de
2001 viria a constituir um marco no processo de militarização em escala internacional‖
(Lemos, 2019: 10). Mais tarde, consubstancial à vitória dos Democratas nos EUA com Barack
Obama, em 2009, a esquerda na América Latina passou a apresentar em vários aspectos os
sinais de sua fraqueza, marcando, assim, a chamada ―virada à direita, iniciada na primeira
metade da década de 2010‖ (Cunha et. al., 2021). Assim, para se falar das questões globais
dessas manifestações e as mais recentes por parte dos grupos de extrema-direita, associamos,
também, por vezes, estes eventos à ascensão do chamado ―neo-fascismo‖ americano como
manifestação ideológica que reestruturou essa consciência tradicionalista e que deu luz a uma
―nova‖ (e recente) crise identitaria em torno das relações sociais com a questão da luta
política, reproduzindo algumas das suas velhas estruturas de oposição entre ―esquerda x
direita‖ (marcantes, por exemplo, no Brasil, na ditadura de Getúlio Vargas e na Ditadura
Militar) e colocando o passado como lugar dessas disputas.
Portanto, para Pierre Bourgois, o fim da Guerra Fria havia sido um movimento de profundas
mudanças no cenário geopolítico da América. O término da bipolarização, segundo ele, com o
fim da Guerra Fria ao final da década de 1980, havia arrancado dos ―neoconservadores‖ o seu
principal inimigo de longa data, ou seja: a ―ameaça comunista‖. Para Bourgois, na década de
1990 os ânimos da Guerra Fria, entre capitalismo e comunismo, haviam sido contidos (se
percebe que as populações deixaram de lado a guerra e se dedicaram a reconstrução da nação
e do seu nacionalismo). E, portanto, após a guerra fria, atenuaram-se as disputas entre a
―esquerda‖ e a ―direita‖ por um breve tempo que havia sido outrora, no contexto das
Ditaduras Militares na América Latina, mais latente. Esse processo de mudança ao final do
século XX, transformou os principais partidos defensores desse neoliberalismo vigente em
uma espécie de fonte da juventude para a ―nova‖ consciência autoritarista que se formava na
América. Esse processo passou a ser identificado com as conquistas da democracia e do
progresso do capitalismo. De acordo com Rosana Soares Campos, os impactos dessas
reformas neoliberais na América Latina na década de 1990 trouxeram graves perigos para a
sociedade. Nela, as pessoas entraram em um estado de colapso, com o aumento da
informalidade que fez elevar o nível da pobreza e da violência nos países americanos: