
Solange Straube Stecz, Rafaela Calil Mussi Lima e Elianne Ivo Barroso
MARATONA AUDIOVISUAL
A MEMÓRIA COMO OBJETO DE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL
5. A memória afetiva como objeto de produção audiovisual
Recordar é talvez uma das experiências mais importantes do ser humano e que permite
ressignificar o passado fazendo-o presente. No entanto, a memória está diretamente vinculada
ao esquecimento. Supressão (esquecimento) e conservação (recordação) são indissociáveis.
Para o pensador búlgaro Tzvetan Todorov, “a memória não se opõe absolutamente ao
esquecimento. Os dois termos contrastantes são o apagamento (o esquecimento) e a
conservação; a memória é, sempre e necessariamente, uma interação entre os dois” (2000).
Para ele, a memória é uma seleção, um exercício pelo qual o indivíduo, ao recordar, faz uma
escolha do que deseja conservar ou descartar. Maurice Halbwachs (2006), sociólogo francês,
ao sistematizar seu conceito de memória coletiva, afirma que a memória individual pode ser
preenchida com o apoio da memória coletiva, uma vez que os dois tipos de memória (o
individual e o coletivo) se interpenetram e um ajuda a preencher as lacunas do outro (2006, p.
72).
Na busca da reconstrução da história de vida de uma pessoa, é necessário levar em conta os
fragmentos da memória, percebidos não como registros fiéis da realidade, mas como uma
sobreposição de lembranças que associam seu momento pessoal ao vivido em coletividade.
Logo, é possível afirmar que a construção da memória é coletiva e elemento da construção de
uma identidade, conforme afirma Le Goff:
A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar
identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades
fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na
angústia. Mas a memória coletiva não é somente uma conquista, é
também um instrumento e um objeto de poder. São as sociedades cuja
memória social é sobretudo oral ou que estão em vias de constituir uma
memória coletiva escrita que melhor permitem compreender esta luta
pela dominação da recordação e da tradição, esta manifestação da
memória.
Le Goff, 1990: 476.
Podemos observar esse contraste entre memória individual e coletiva no vídeo “El hilo da
vida”
, que narra o “tecer da vida”, ou seja, a memória passada entre gerações sobre a
atividade de tecer lã. No vídeo, há a presença de um filho que acumula a tradição de seus
antepassados por meio de sua mãe, o conhecimento inerente da atividade. No curta-metragem,
podemos observar um objeto, a “roda de fiar”, maquinário utilizado para tecer lã, no qual o
personagem René Scholz relata que, desde seu nascimento, pôde vivenciar gerações
utilizando o equipamento. Ele conta que a memória afetiva da atividade fez com que não
“El hilo da vida” tradução livre “O fio da vida”- vídeo de 05:11 minutos produzido pela equipe 5 da Maratona.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DyNlWj1YoPg&t=155s. O grupo define o título a partir de
uma mescla dos dois idiomas, tecendo ali a aproximação entre os dois países.