
Cristiano Alencar Arrais- Julio César Bentivóglio
PRÖLOGO
concepção de história de um dos mais importantes sociólogos da educação, no Brasil. Neste
trabalho, é enfatizada a sua concepção de história e a função civilizadora que é atribuída às
elites sociais e econômicas brasileiras. Nessa concepção, a Universidade de São Paulo (USP),
tinha papel central, de orientador da solução dos grandes problemas nacionais. Ao ressaltar,
no conjunto da obra de Fernando Azevedo, a persistência de uma filosofia da história
essencialista e de viés exemplar, o autor porpõe que Azevedo buscava a superação dos “males
de origem”. Assim, “ao mesmo tempo em que sua síntese esconde o país, revela os
compromissos do autor” com uma visão sobre o que era a cultura brasileira, mas
especialmente o que ela deveria ser no futuro. Já o artigo A atualidade e o caráter
anticolonial dos isebianos históricos, procura demonstrar a atualidade das ideias dos
idealizadores do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) – uma das principais
instituições representantes do nacional desenvolvimentismo – bem como sua coerência com a
tradição pós-colonial. Com base nessa tentativa de aproximação, o autor observa que no que
concerne ao conjunto de autores analisados, “a ideologia do desenvolvimento tem de vir da
consciência das massas, isto é, sem ideologia do desenvolvimento não há desenvolvimento
nacional, sem ideologia não há realidade coletiva.”
Como sugerido na chamada desse dossiê, em um mundo em que o ambiente digital, as
comunicações remotas e os contatos virtuais se integraram à experiência cotidiana, importa
ressaltar o impacto sobre as identidades coletivas e/ou individuais. Os dois trabalhos
apresentados na sessão Diálogos e reflexões, direcionam-se para esse espectro de temas. O
artigo El uso social y político del patrimonio cultural analizado a través de situaciones en
Sudamérica: Patrimonio, academia e imaginario nacional en Brasil y Argentina, realiza, ao
mesmo tempo, uma abordagem comparativa entre as políticas patrimoniais empreendidas na
Argentina e Brasil, e um vigoroso levantamento das políticas de gestão do patrimônio,
especialmente no período recente, quando se observa uma forte desvalorização desse tema,
especialmente no que concerne os governos de Macri (Argentina) e Bolsonaro (Brasil). Além
disso, este trabalho altamente propositivo ressalta para o leitor que “la importancia social de
la gestión del patrimonio, en todos sus aspectos, debe ser informada a la población ya que
involucra aspectos salientes de su organización, imagen, concepción y proyección. Es preciso
que la sociedad tenga claridad sobre lo que se propone, con real oportunidad de participación
y debate. Ello es deseable en toda coyuntura política, mucho más en la actual y no puede
darse por sobreentendida”. O engajamento socialmente responsável é, segundo o artigo, um
dos princípios-chave para as propostas apresentadas sobre as políticas de gestão do
patrimônio, atualmente. Já o artigo Teses sobre a didática da história, originalmente
apresentado no Fórum de Teoria da História, realizado em agosto de 2022, observa que os
processos de atribuição de sentido vão para além do ambiente escolar. A tentativa de
recuperação do humanismo como chave para recolocar o tema da cultura histórica convida o
leitor a recuperar a noção de comunidade, num contínuo exercício de re-orientação, de
desnaturalização com vistas à uma prática intelectual – a abertura hermenêutica para o Outro
– que valoriza a diferença e o cuidado com o outro.